UMA ECLESIOLOGIA PARALELA: o preocupante fenômeno do tradicionalismo católico

Resumo

Ao longo dos tempos, e em cada circunstância sincrônica, a Igreja apresentou uma forma de se expressar e atuar no mundo ao qual está inserida. O Concílio Vaticano II lançou novos olhares, ousou refletir diferente, balançou estruturas e “aggiornou” a Igreja. Todavia, esse processo foi acompanhado de um significativo desgosto, claro que não maior do que a vontade de renovação, mas que fez pulsar uma vontade de resistência; o tradicionalismo. Não provocando separação institucional, o tradicionalismo é uma ameaça mais nociva, pois sua atuação acontece no seio eclesial, ameaçando causar implosões que confrontam a própria comunidade católica, numa divergência preocupante. Uma das características mais perigosas dessa forma de ser Igreja, é a uniformidade. Dela desencadeia-se a não aceitação, e, no extremo, a condenação do que se apresenta como diferente. Não obstante a referência evidente no pensamento da Igreja medieval, é fato que o tradicionalismo, em sua estrutura organizacional, é fruto do movimento eclesial do século XIX. A oposição à modernidade levou a Igreja a assumir uma postura fixada na autoridade, sobretudo, em torno do sumo pontífice. Se antes a Igreja oficial lutava contra o mundo, hoje é obrigada a defender-se dos que se apropriaram daquilo que ela um dia foi, e deixou de ser, por ação do Espírito Santo. Os tradicionalistas, enxergam a Igreja como o lugar que pode livrá-los do mundo. Trata-se de um protesto da parte dos insatisfeitos com a eclesiologia oficial vigente, desembocando num grito esquizofrênico que exige o retorno de uma realidade, cuja maioria dos exigentes não viveram. O tradicionalismo é um sistema bem estruturado, com liberdade legítima dentro da Igreja e impulsionamento demasiado pelas mídias sociais. Visivelmente a Igreja luta contra uma força paralela que vem dentro de si mesma. E isso se tornou mais claro com o Pontificado do Papa Francisco. Trata-se de uma luta entre um Papa preocupado com a humanidade e como esta se coloca no mundo, e um grupo que quer, a qualquer custo, que a Igreja fuja do mundo. Com isso, contraditoriamente, quem grita pela unidade, prega e testemunha uma ação cismática.